quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Jornalismo on-line: a (in)certeza de que nada será como dantes

O "Jornal de Notícias", diário com 120 anos, foi pioneiro no que à utilização da Internet diz respeito.

Em 1995, já se podia consultar a edição do JN on-line, como se pode ver através da imagem retirada do Archive.org (reprodução da edição on-line de 12 de Dezembro de 1998).

Esta inovação, na altura, estava a par do que se fazia já em termos internacionais...

No entanto, durante estes últimos 13 anos, as mudanças não acompanharam o arrojo dos primeiros tempos na rede.
A edição on-line limitava-se apenas a reproduzir a impressa.
Na imagem que reproduz a edição de 28 de Setembro de 2007, para além disso, apenas se pode aceder às "últimas notícias".

Apenas em Maio deste ano é que a edição electrónica do JN "deu o salto", integrando a multimedialidade que é a característica fundamental da Internet. Na imagem gentilmente cedida pelo investigador Luís Santos, fixada minutos após a "nova roupagem", podem ver-se as diferenças...


Só neste período verificou-se um crescimento exponencial do JN em termos de visitantes. Na classificação mensal que uma empresa da especialidade efectua, situa-se entre o nono e o décimo primeiro posto, com cerca de 2 milhões e 800 mil visitantes de média.

Uma situação que, no dizer de Luís Santos - que está a estudar as mudanças no JN a partir de dentro, como investigador participante -, decorreu de uma lógica empresarial, já que o diário pertencia à PT-Multimédia e "teve" que ser alojado no portal "Sapo" e só há pouco tempo é que se "libertou" contratualmente dessa obrigação.

O JN faz parte do grupo Controlinveste - que detém, também, o "Diário de Notícias", a TSF e a "SportTV" -, e há oito meses que a administração e a direcção têm feito uma aposta clara na plataforma on-line, não como reprodução do conteúdo da edição em papel, mas com recursos próprios que servem os interesses de leitores com outro perfil.

Redacções "papel" e on-line no mesmo espaço

Como salientou Luís Santos, não se adoptou pelo sistema de despedimento de parte da redacção "tradicional" - como acontece por esse mundo fora -, mas colocou-se a redacção do on-line junto da redacção em papel, separada por vidro, num lugar considerado nobre: o antigo espaço de reuniões, onde se vislumbra todo o espaço.

Lá trabalham seis pessoas. Utilizam textos da edição em papel, para além da produção própria, nomeadamente as reportagens multimédia. De Maio para cá o crescimento tem sido imenso, tendo já conquistado um prémio do ObCiber -Observatório do Ciberjornalismo.

Luís Santos destaca que, perante estas "boas" notícias, há quem lamente que o jornal só tenha agora acordado para esta realidade. De resto, a redacção do JN tem manifestado interesse em colcaborar com o on-line, prontificando-se quem sai em serviço de reportagem a recolher vídeos que, mais tarde, poderão dar um recorte multimédia a um trabalho que, de outra forma, teria apenas texto.

Futuro? "Ninguém sabe como vai ser..."

O "Público", por exemplo, que investe na área há muitos anos, segue em 5º lugar no ranking que já referimos, com uma média superior a 5 milhões de páginas vistas mensalmente... E, pelos vistos, trata-se de um projecto consolidado que pode estar mesmo a ser equacionado para servir de meio para a edição diária do jornal, cuja lógica "impressa" poderá passar, apenas, para o fim-de-semana...

Uma das vantagens do JN, segundo os indicadores, é que os leitores do on-line não são os mesmos da edição impressa. Tradicionalmente vocacionado para o Norte, o jornal tem na região de Lisboa uma área geográfica com muitos leitores via Internet, o que constitui mais uma vantagem...

É que o, segundo dados estatísticos revelados por Luís Santos, o leitor médio do JN em papel tem mais de 35 anos e escolaridade média. Na Internet, o perfil é outro: mais jovens, com mais habilitações académicas...

Quanto ao futuro, o investigador diz que "ninguém sabe como vai ser", facto que reputa, até, de "interessante", devido à incerteza e de, nomeadamente os novos jornalistas, poderem ter uma palavra a dizer nos paradigmas de produção noticiosa para as novas plataformas.

Uma coisa é certa: "Nada será como dantes!". No JN, por exemplo, a própria edição em papel já aproveita muita coisa do que produz o on-line, o que é significativo, como destaca Luís Santos neste áudio:


A rentabilidade de um e de outro meio poderá ditar o caminho a seguir. Para já, nos próximos dois anos, o JN terá "uma folga" no que a esse problema diz respeito e poderá optimizar toda o processo. Depois disso a administração analisará os caminhos a seguir. Mas, tendo em vista a velocidade estonteante com que as coisas têm acontecido nesta área dos media, nunca se sabe... O futuro poderá acontecer mais cedo!

Algumas das dicotomias provocadas pela edição "papel" e pelo on-line, neste momento, em termos de "Jornal de Notícias", podem ser acompanhadas através do vídeo:



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